Jogávamos. Era cada um por si.
Nossas cartas tinham de ser iguais, da mesma cor. Se não da mesma cor, do mesmo
número. O meu número... ou o seu, quem sabe.
Passava das quatro da tarde, o jogo agora era com o olhar. A
disputa se resumia em “quem olha primeiro?”.
Olhei calmamente. Joguei a carta de inverter, queria um
olhar também.
E quando retribuiu, senti que seus olhos estavam
confortáveis nos meus. Mas ainda havia mágoa. Então, jogo a carta de “pular a
vez”. É tão difícil assim esquecer quando alguém pisa na bola com você? É.
Como tudo precisa de uma resposta, você lançou a carta
coringa e me deu a liberdade de escolha. “E então, o que vai escolher?”, diziam
seus olhos que em nenhum momento me pareceram silenciosos.
Eu pensei, abaixei a cabeça, cocei a orelha e não respondi,
foi quando tive que escolher entre duas cartas: a da decisão e a da saudade.
Joguei a carta da
decisão para o alto e optei por ficar com a saudade.
“Uno!”, eu disse firme. E estava só.
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