Eu não conhecia o padrinho do meu pai até o dia de sua morte.
Cheguei perto do caixão; Vi um par de olhos velhos, fechados, a barba branca não escondia a sua experiência e as mãos juntas sobre a barriga nos davam a impressão de descanso daquele corpo que devia estar beirando os 80 anos, não sei ao certo.
O caixão de madeira estava enfeitado com flores e um grande véu transparente para que todos pudessem dar um último adeus ao professor de português, ao amigo, ao paroquiano, ao padrinho e outras tantas nomeações.
O enterro saía rumo à igreja enquanto um carro de som tocava "Eu quero apenas", de Roberto Carlos. Talvez fosse a música preferida dele ou talvez a igreja tenha escolhido a canção.
A rua por onde o caixão passou parecia cobrir-se de cinza, o sentimento de tristeza de cada pessoa ali presente parecia ser cinza, estava nublado, frio e tenso, assim como o céu daquela tarde.
“Já reparou que quando morre uma pessoa de bem chove?”, minha mãe comentava; e quem sabe não era verdade? No dia anterior e no dia seguinte do falecimento o dia estava ensolarado, justamente nesse dia choveu. Talvez Deus realmente comemore quando pessoas de bem se juntam a ele no céu.
Gosto da parte do enterro em que o falecido recebe a benção na igreja. Primeiro, porque a gente se livra de ter o que dizer pra confortar quem está sofrendo (eu nunca soube o que dizer, sempre preferi chegar quieta e abraçar) e segundo, porque eu sempre gostei muito do teto de lá, é azul com estrelas e cometas dourados de metal, acho que não comentei que eu gosto muito do céu.
Enquanto ouvia o padre falar uma mulher esbarrou em mim molhando minha mão com uma gota das suas lágrimas. Já chorei em enterros por muitos motivos: porque estava com saudade, porque vi os outros chorando, porque me arrependi de não ter pedido desculpas; perguntei-me qual seria o motivo dela.
Enfim, chegamos ao ponto final de todo enterro, seria o enterro de fato, não fui lá ver a terra cobri-lo, nunca gostei de ver, meus pais também não foram. De longe ouvi apenas os aplausos de despedida a um bom homem.
“A morte é sempre uma oferta dolorosa”, foram as palavras que eu guardei do padre; e nós temos tão pouco tempo... Por isso vou te fazer um pedido, mas não vou te pedir pra tentar ser feliz, perseguir a felicidade não vai te fazer feliz tão cedo, eu vou fazer melhor, vou te pedir apenas pra viver.
Minha linda. Adorei seu blog, vc está de parabéns. Como sempre seus textos são maravilhosos. Mas senti que agora eles amadureceram. Adorei também a criatividade do blog, a estrutura em geral está muito legal. Olha, quero ler mais textos seus... pode ir postando!! ABraços e beijoss
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