quarta-feira, 11 de julho de 2012

Anotações sobre a morte.


Eu não conhecia o padrinho do meu pai até o dia de sua morte.
Cheguei perto do caixão; Vi um par de olhos velhos, fechados, a barba branca não escondia a sua experiência e as mãos juntas sobre a barriga nos davam a impressão de descanso daquele corpo que devia estar beirando os 80 anos, não sei ao certo.
O caixão de madeira estava enfeitado com flores e um grande véu transparente para que todos pudessem dar um último adeus ao professor de português, ao amigo, ao paroquiano, ao padrinho e outras tantas nomeações.

O enterro saía rumo à igreja enquanto um carro de som tocava "Eu quero apenas", de Roberto Carlos. Talvez fosse a música preferida dele ou talvez a igreja tenha escolhido a canção.
A rua por onde o caixão passou parecia cobrir-se de cinza, o sentimento de tristeza de cada pessoa ali presente parecia ser cinza, estava nublado, frio e tenso, assim como o céu daquela tarde.
“Já reparou que quando morre uma pessoa de bem chove?”, minha mãe comentava; e quem sabe não era verdade? No dia anterior e no dia seguinte do falecimento o dia estava ensolarado, justamente nesse dia choveu. Talvez Deus realmente comemore quando pessoas de bem se juntam a ele no céu.
Gosto da parte do enterro em que o falecido recebe a benção na igreja. Primeiro, porque a gente se livra de ter o que dizer pra confortar quem está sofrendo (eu nunca soube o que dizer, sempre preferi chegar quieta e abraçar) e segundo, porque eu sempre gostei muito do teto de lá, é azul com estrelas e cometas dourados de metal, acho que não comentei que eu gosto muito do céu.

Enquanto ouvia o padre falar uma mulher esbarrou em mim molhando minha mão com uma gota das suas lágrimas. Já chorei em enterros por muitos motivos: porque estava com saudade, porque vi os outros chorando, porque me arrependi de não ter pedido desculpas; perguntei-me qual seria o motivo dela.
Enfim, chegamos ao ponto final de todo enterro, seria o enterro de fato, não fui lá ver a terra cobri-lo, nunca gostei de ver, meus pais também não foram. De longe ouvi apenas os aplausos de despedida a um bom homem.
“A morte é sempre uma oferta dolorosa”, foram as palavras que eu guardei do padre; e nós temos tão pouco tempo... Por isso vou te fazer um pedido, mas não vou te pedir pra tentar ser feliz, perseguir a felicidade não vai te fazer feliz tão cedo, eu vou fazer melhor, vou te pedir apenas pra viver.



Um comentário:

  1. Minha linda. Adorei seu blog, vc está de parabéns. Como sempre seus textos são maravilhosos. Mas senti que agora eles amadureceram. Adorei também a criatividade do blog, a estrutura em geral está muito legal. Olha, quero ler mais textos seus... pode ir postando!! ABraços e beijoss

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